Gillian Burgis-Smith em destaque na revista Architects DataFile
O percurso de Gillian Burgis Smith até à arquitetura inclusiva
O percurso de Gillian Burgis Smith na arquitetura é inspirador. Desde muito jovem, Gillian enfrentou inúmeros desafios, incluindo mentalidades antiquadas do sector e grandes obstáculos de saúde. Apesar disso, aproveitou as suas experiências para criar ambientes inclusivos para os outros, dando passos significativos no domínio da arquitetura e do design.
Descobrir a paixão pela arquitetura
O caminho de Gillian para a arquitetura começou por acaso. Depois de deixar a escola aos 16 anos, começou por seguir uma carreira na administração local, considerando-a um emprego estável e seguro. A exposição ao Departamento de Arquitectos durante o seu mandato despertou o seu interesse. Ao observar os estagiários de arquitetura a trabalhar, apercebeu-se de que a arquitetura era a sua vocação. Anos mais tarde, descobriu que os seus pais biológicos também estavam envolvidos na área da arquitetura e do design, reforçando a sua afinidade natural com a profissão.
Enfrentando de frente os preconceitos de género, Gillian inscreveu-se em aulas nocturnas para um ONC em Estudos de Construção, que a qualificou como técnica de arquitetura. Determinada a avançar mais, prosseguiu um curso básico na North London Poly e um BA (Hons) a tempo parcial na Universidade de Greenwich. A sua perseverança deu frutos e tornou-se uma das apenas 3% de mulheres que se formaram em arquitetura em Greenwich em 1994.
Lutar contra os obstáculos à saúde
A carreira de Gillian sofreu uma viragem significativa quando sofreu dois AVC. Estes acontecimentos tiveram um impacto profundo na sua vida profissional, tornando-a extremamente consciente da importância do estilo de vida, da saúde e da felicidade no ambiente de trabalho. Começou a centrar-se nas diversas necessidades dos indivíduos, particularmente daqueles com diferentes respostas fisiológicas, físicas e psicológicas aos ambientes.
A sua investigação durante este período evidenciou que a conceção para pessoas com deficiências visíveis e não visíveis era frequentemente um exercício de seleção. Gillian conduziu entrevistas de investigação individuais com indivíduos neuro divergentes e neurodegenerativos em áreas criativas para compreender como adaptaram os seus processos de trabalho durante a pandemia.
Esta investigação sublinhou a necessidade de ter em conta factores físicos, sensoriais e cognitivos no design, o que a levou a reorientar o seu percurso profissional.
Fundar o seu próprio consultório
Os problemas de saúde de Gillian, incluindo o diagnóstico de um tumor cerebral, moldaram ainda mais a sua abordagem à arquitetura. O diagnóstico, embora inicialmente assustador, provou ser um ponto de viragem, permitindo-lhe gerir melhor a sua saúde e dedicar mais tempo à família. Também lhe proporcionou uma perspetiva única sobre o design inclusivo.
Em resposta às suas experiências, Gillian fundou a Strawberry Leopard, uma consultora dedicada à criação de soluções de design inclusivas e universais. Também foi co-fundadora da Citizens with Experience, aproveitando experiências colectivas vividas para informar o seu trabalho. A sua consultoria centra-se na eliminação de barreiras à entrada, divulgação, reconhecimento e promoção na indústria do design através de práticas inclusivas.
Ambientes inclusivos pioneiros
A vasta experiência e os desafios pessoais de Gillian colocaram-na numa posição única para defender a conceção inclusiva. Gillian salienta a importância de considerar a neurodiversidade na conceção arquitetónica, que tradicionalmente se tem centrado mais na acessibilidade física. O seu trabalho salienta que cerca de 13 milhões de pessoas com deficiência no Reino Unido não utilizam uma cadeira de rodas, incluindo grupos neuro divergentes e neurodegenerativos, o que torna a conceção inclusiva mais importante do que nunca.
Gillian fundou a Strawberry Leopard, uma empresa de consultoria dedicada à criação de experiências inclusivas, diversificadas, equitativas e acessíveis e à promoção da saúde e do bem-estar.
A sua abordagem, que utiliza uma estrutura de inovação orientada para o impacto, tira partido da investigação baseada na ação e de 7 princípios:
1: Pensamento fundamental
2: Centrado na vida
3: Democratizada
4: Experiência vivida
5: Regenerativo
6: Impactante
7: Iterativo
para esclarecer questões e criar soluções óptimas centradas na vida para todos (pessoas, locais e planeta).
Olhando para o futuro
Gillian continua a alargar os limites do design inclusivo, explorando metodologias e plataformas como as Realidades Alargadas (XR) e as Realidades Aumentadas (AR) para identificar desafios e oportunidades. O seu objetivo é colmatar as lacunas entre a neurociência, o behaviorismo e a arquitetura para criar ambientes e experiências mais inclusivos.
A sua visão para o futuro envolve uma abordagem de cima para baixo e de baixo para cima, com a legislação governamental, os regulamentos de planeamento e os currículos educativos a reconhecerem a necessidade de equidade de design para todos. Ao encorajar a colaboração aberta e ao refletir o mundo real em todos os sectores, Gillian acredita que podemos criar ambientes que se adaptem a todos.
Conclusão
O percurso de Gillian Burgis Smith é um testemunho da resiliência, da inovação e do poder do design inclusivo. O seu trabalho teve um impacto significativo na comunidade da arquitetura e do design, fomentando ambientes que respondem a diversas necessidades e promovendo uma sociedade mais inclusiva. A sua história é uma inspiração para todos, demonstrando que a superação de desafios pode levar a mudanças profundas e positivas no mundo.
Leia a entrevista de Gillian na revista Architectsdatafile.co.uk aqui.